Joanna Lima, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), junto com os outros estudantes da equipe e o professor Peter Ratcliffe, no centro.
“Cinco minutos de conversa com ele geram aprendizados para a vida toda” – Foto: arquivo pessoal
Os vencedores do Prêmio Nobel de Medicina de 2019 foram anunciados nesta segunda-feira (7). Dentre os três ganhadores está o pesquisador Peter Ratcliffe, da Universidade de Oxford, que tem uma brasileira em sua equipe, a piauiense Joanna Darck Carola Correia Lima, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
Joanna Lima é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e integrante do Programa de Pós-Graduação de Biologia dos Sistemas do ICB. Ela estuda caquexia associada ao câncer, uma condição na qual os pacientes apresentam perda de peso acentuada e involuntária. No mestrado, a jovem cientista constatou que pessoas com o mesmo tipo de câncer e com o mesmo estágio de avanço do tumor podiam, ou não, desenvolver caquexia. Já no doutorado, as pesquisas se voltaram para entender por que isso acontecia. Ao estudar os tumores de pacientes caquéticos e não caquéticos, a grande descoberta foi de que os fatores inflamatórios secretados eram diferentes.
Durante o projeto de doutorado, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi realizada a análise proteômica, que identificou alteração de algumas funções biológicas, dentre uma delas, a hipóxia (baixas taxas de oxigênio nas células). “Foi isso que nos levou a procurar o laboratório de Peter Ratcliffe, que estuda os mecanismos moleculares da hipóxia em diversas doenças, tais como o câncer”, explica Joanna. O objetivo do contato era entender melhor os mecanismos regulatórios desse processo.
O trabalho da pesquisadora busca entender como a hipóxia pode levar pacientes com câncer colorretal a possivelmente desenvolver a caquexia.
O gene indutor da hipóxia, chamado HIF (sigla em inglês para Fator Indutor de Hipóxia) foi encontrado nos tumores de pacientes caquéticos pelo grupo do laboratório da professora Marilia Cerqueira Leite Seelaender, do ICB, que orienta a pesquisa de Joanna. “Uma das vias do nosso estudo é destinada para saber se o HIF é o fator que causa a inflamação que gera a caquexia”, explica Marilia Seelaender. Quando ativado, o gene induz funções biológicas como a formação de vasos sanguíneos no tumor, por exemplo, o que faz com que ele cresça.
A partir dessas descobertas as pesquisadoras entraram em contato com o professor Ratcliffe. Joanna conta que desde a reunião por skype o professor foi muito solícito e atencioso. Atualmente, a jovem, que realizou a maioria dos estudos em escolas públicas no Piauí, está fazendo doutorado sanduíche na Universidade de Oxford, com apoio da Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE), financiada pela Fapesp.
Sobre Joanna, a professora Marilia diz perceber que a jovem ama o que faz. “Ela sempre teve muito entusiasmo e muita vontade de aprender. É extremamente estudiosa, inteligente e sabe muito bem trabalhar em equipe.”
Joanna conta que o dia a dia no laboratório com o professor Ratcliffe é “incrível”. “Ele está sempre presente. É uma pessoa muito simples e humilde.” Segundo a pesquisadora, no dia em que ele soube que era um dos ganhadores do Nobel de Medicina, eles estavam em uma reunião científica que acontece toda segunda-feira. Após ser notificado, Ratcliffe voltou para a sala e terminou as discussões com a equipe. Somente depois falou sobre a conquista. “Cinco minutos de conversa com ele geram aprendizados para a vida toda.”
Atualmente, Joanna desenvolve alguns projetos com Ratcliffe. Um deles diz respeito à inibição farmacológica do HIF. Os resultados, submetidos à publicação por uma revista científica, mostraram que essa modulação é capaz de inibir o crescimento de tumores. A evolução dos resultados pode apontar, futuramente, para uma nova estratégia terapêutica contra o câncer.
Fonte: Reprodução do Jornal da USP